No mundo todo, diferenças sociais e culturais se refletem também na condução das questões financeiras. Asiáticos são conhecidos por sua elevada preocupação em poupar, enquanto norte-americanos se consideram muito empreendedores. Europeus são muito arraigados aos benefícios promovidos pelo Estado. Já nós, brasileiros, temos hábitos fortes de consumo. Independentemente da região ou da cultura em que se viva, é muito provável que você se depare com pelo menos três de cinco necessidades globais:
1. Proteger sua família: estamos muito acostumados a cuidar de alguns de nossos bens. É difícil encontrar automóvel que não seja segurado. Por outro lado, ainda é pouco percebida a importância de proteger o padrão de vida da família em caso da falta – ou incapacidade – prematura de seu principal gerador de renda. Você está seguro de que as pessoas que dependem de você conseguirão manter seu atual padrão de vida – em particular estudos, saúde e moradia- em caso de sua ausência? Se não estiver, sugiro rever periodicamente o que seria necessário para garantir tais padrões até que tenham condições de caminharem pelas próprias pernas. Mesmo que você conte com patrimônio elevado cujas aplicações gerem renda, na maioria das vezes o padrão estabelecido não é sustentável apenas com esses rendimentos. Por isso, é comum sua deterioração em tais circunstâncias. Uma solução é avaliar um seguro de vida com prêmio compatível com as necessidades identificadas.
2. Educar seus filhos: uma boa formação requer vários anos de investimento. Em particular, cursos superiores e especializações demandam somas razoáveis de recursos. Independentemente de suas perspectivas financeiras, sugiro considerar um plano de investimento para que, no período em que essas despesas forem as mais altas, você tenha tranquilidade para bancá-las sem se apertar. Obviamente a viabilidade depende de suas disponibilidades atuais. De qualquer forma, considere um período mínimo de cinco anos de investimentos regulares para que os depósitos sejam sustentáveis e para que o dinheiro possa “trabalhar” para você: com esse horizonte você poderá optar por alternativas que proporcionem potenciais mais elevados do que as aplicações mais óbvias.
3. Aposentadoria: esse tema é bastante discutido e os planos de previdência já são familiares a boa parte dos brasileiros com capacidade de poupança. No entanto, ainda há muitos planos feitos apenas visando deduções de imposto de renda ou contratados sem objetivos claros de prazos e benefícios. Para que você desfrute com tranquilidade do período em que deixar de exercer atividade remunerada, é importante avaliar qual será a sua necessidade de renda naquela fase. Já parou para pensar com quanto você pretende viver? A melhor forma de definir o plano atual é consultar um especialista que lhe fará as contas de trás para frente: com os valores que você definir como objetivo de renda futura, ele calculará o patrimônio necessário a ser acumulado, quanto poupar e – por fim – os tipos de aplicações e os volumes de aplicações regulares para atingi-lo. Aqui o fator tempo também é importante: quanto maior sua disponibilidade, maiores são as oportunidades para obter retornos diferenciados e menores são as necessidades de poupança imediata.
4. Ampliar seu patrimônio: essa é uma questão que merece atenta revisão nesse período de juros mais baixos. Você já parou para avaliar se seu patrimônio tem potencial de crescimento real (aquele que desconta a inflação)? Considerando os níveis atuais de remuneração das aplicações tradicionais – atreladas aos juros – sugiro direcionar para essas modalidades somente os valores de sua “reserva de emergência” (considere aproximadamente seis meses de suas despesas) e aqueles já comprometidos no curto prazo. As disponibilidades restantes podem ser aplicadas em alternativas de potenciais mais elevados e maior horizonte de retorno. Aqui são importantes também os fatores calma, racionalidade e regularidade. Períodos de instabilidade são comuns. Porém, se os objetivos foram bem estabelecidos e as disponibilidades bem avaliadas será possível passar por tais períodos com patrimônio ainda mais robusto.
5. Deixar um legado: no Brasil esse tema é menos relevante do que em outros países nos quais a transmissão de patrimônio é muito tributada. Mesmo assim, vale a pena pensar em maximizar seu legado e evitar eventuais conflitos entre herdeiros. As alternativas vão de aplicações em planos de previdência – que dispensam inventários na distribuição dos valores aos beneficiários – a doações em vida, com ou sem usufruto. Aqui também é aconselhável a consulta a especialistas para que as soluções não virem problemas no futuro.
Ou seja, independentemente de quais sejam as suas condições financeiras, é muito provável que se depare com algumas (ou várias) dessas questões, quase padrão em qualquer parte do planeta. Por isso, quanto mais cedo você conseguir endereçá-las, melhores serão os seus resultados.
Fonte: Valor Econômico