A redução dos juros, nós e a imprensa

Pesquisa feita pela empresa Towers Watson em parceria com a consultoria Netquant mostra que, em renda fixa, os fundos de previdência fechada tiveram rentabilidade maior que os de previdência aberta no período de 2002 a 2012: 14,22% contra 13,48%. Para Alessandra Cardoso, líder da área de Investimentos da Towers Watson, o resultado se deve à estratégia mais agressiva adotada pelos fundos de pensão na última década: antevendo a continuidade do cenário de juros baixos, diversificaram investimentos e apostaram em títulos de mais longo prazo.

O professor da Fundação Instituto de Pesquisas Contábeis, Atuariais e Financeiras (Fipecafi), Miguel Leôncio Pereira, explica que as empresas costumam fazer uma paridade de contribuição de um para um. Ou seja, para cada R$ 1 que se deposita, a empresa aplica mais R$ 1. Muitas estabelecem limites de 1 a 6% do salário do empregado para fazer essa contribuição. Mas é possível fazer contribuições voluntárias acima desse valor, sem, nesse caso, a contrapartida.— Não há outro investimento em lugar algum do mundo que dê esses 100% de rentabilidade. Por si só, isso já vale uma avaliação criteriosa — defende o professor.

Mas além disso, as empresas ainda conseguem negociar taxas de administração menores que os planos comercializados, porque, com um plano coletivo, têm poder de negociação muito maior que uma pessoa física. Isso significa que 100% do dinheiro irá para essa poupança, lembra Pereira. Para ele, a falta de liquidez não deve ser um fator inibidor da contribuição para um plano de previdência fechado.

Simulação feita pelo professor da Fipecafi, considerando uma pessoa que contribua com R$ 1.000,00 mensais por 30 anos, mostra que, no saldo acumulado, um participante de plano aberto, que se submeta a uma taxa de administração de 2,0% ao ano, ante um participante de plano fechado, que conte com uma taxa de 0,5%, acumula 35% menos em seu patrimônio. (O Globo)

Imprensa nem sempre entende – Mas a mídia nem sempre entende tais vantagens e, não raro nos últimos dias, tem estampado reportagens que em resumo dizem que, com o declínio dos juros e a consequente tendência à redução das rentabilidades pagas pela renda fixa, os fundos de pensão estariam diante da opção única de aumentar as contribuições de empresas patrocinadoras e participantes dos planos ou diminuir os benefícios, sem considerar a existência de outras alternativas. Afinal, não se pode descartar a possibilidade, aliás, bastante presente, de possuirmos competência suficiente para compensar o que foi perdido em termos de retorno com resultados maiores em investimentos estruturados, ações, imóveis e papéis de dívida privada, entre outras possibilidades.

Na última terça-feira (8), inclusive, o Vice-presidente da ABRAPP, José Ribeiro Pena Neto, escreveu carta à redação de um jornal exatamente para corrigir um desses equívocos.

José Ribeiro começa a carta chamando a atenção no texto da jornalista para “uma certa confusão entre ativos (investimentos) e passivo (compromissos previdenciários)”. Ele continuou:

“Os 4,5% referidos, a serem alcançados após uma redução gradual ano a ano até 2018 e que constituem a taxa de desconto empregada para dimensionar o passivo, levarão efetivamente a um aumento do passivo daqueles planos que não começaram mais cedo a diminuir tal percentual. Não há razões para supor, no entanto, que diante disso a única reação possível é aumentar as contribuições das empresas patrocinadoras ou da massa de participantes para compensar o aumento dos compromissos. A outra opção, no mínimo tão ou mais plausível quanto à primeira, é buscar com profissionalismo e competência elevar o retorno dos investimentos. Vale observar também que os 4,5% de que estamos tratando são reais e não nominais. Como estão acima da inflação, significam na prática uma taxa até superior a dos títulos públicos de longo prazo. A nosso ver, portanto, não cabe dizer que teremos daqui a alguns anos uma meta atuarial “baixa”.

Nos permita a jornalista um último comentário: A boa técnica atuarial manda que a taxa usada para descontar o passivo seja próxima à dos títulos de longo prazo de primeira linha. Portanto, a resolução com a redução é uma clara consequência natural da queda das taxas de juros praticadas na economia brasileira.

Agradecemos à jornalista e lhe pedimos que entenda as nossas observações como uma contribuição ao aprimoramento de seu trabalho, que tanto ajuda a levar a melhor informação a um número crescente de brasileiros”.

Fonte: Abrapp – Associação Brasileira das Entidades Fechadas de Previdência Complementar