Assim que surgiram os primeiros planos de previdência, José Ferreira de Camargo, 78 anos, contratou um para ele e outro para a esposa Ermelinda, 76. Ele, ex-diretor de banco, e ela, dona de casa, curtem a aposentadoria há 22 dos 57 anos que já passaram juntos.
Camargo faz parte de um pequeno grupo de apenas 85.619 pessoas com mais de 66 anos que investem na bolsa brasileira, segundo dados da BM&FBovespa referentes a setembro. Elas são somente 14,25% das pessoas físicas que investem em ações, mas respondem por 41,17% do total aplicado, ou R$ 46,47 bilhões. José Ferreira e Ermelinda participaram do VIII Fórum da Longevidade, organizado pela Bradesco Seguros. Eles e outras dezenas de idosos acompanharam as palestras que dão conta de uma realidade que se impõe: o Brasil será feito cada vez mais de casais Camargo. Resta saber se eles vão estar tão preparados para conviver com a chegada da velhice.
Uma sociedade que ainda tropeça para lidar com a crescente terceira idade já precisa começar a olhar para a quarta idade – como os teóricos chamam a fase de quem ultrapassa os 80 anos. “Esse é o grupo que mais rapidamente cresce na população”, alerta Linda Fried, vice-presidente sênior do Instituto de Medicina da Universidade de Columbia. Em 2050, estimou, 7% da população brasileira fará parte dessa faixa etária. “Parte da preparação para a quarta idade é investir na terceira idade”, diz, ressaltando que é a partir da oitava década de vida que em geral surgem as maiores vulnerabilidades.
Com uma base pequena, o grupo dos mais de 80 cresceu 67% entre 2000 e 2010, ano do último Censo do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). O número de brasileiros com 60 anos ou mais cresceu 38,6%. No período, a população total do país avançou bem menos, 12,8%.
O país já tem 3,2 milhões de pessoas com 80 anos ou mais, segundo Alexandre Kalache, presidente do Centro Internacional de Longevidade do Brasil. A população idosa de hoje sofreu alguns entraves para se planejar financeiramente, como a hiperinflação e os planos mirabolantes que surgiram para combatê-la, diz. “Mesmo que esses idosos tivessem a consciência de que tinham que se preparar, não lhes deram chance”, afirma.
Fonte: Valor